sexta-feira, 19 de setembro de 2008

UM BRASIL CAMPEÃO PARAOLIMPICO.



“Para aqueles que torceram por mim, que sempre acreditaram, me apoiaram a chegar até aqui, eu dedico esta medalha de ouro”, falou o tetracampeão paraolímpico. “Ela tem um pedacinho de cada brasileiro. Espero que o meu feito sirva de exemplo para os milhões de deficientes brasileiros”.

Com esta declaração o judoca brasileiro Antônio Tenório conquistou um feito espetacular nos Jogos Paraolímpicos de Pequim. Após três minutos e meio de combate conseguiu a vitória por ippon sobre Karim Sardarov, de Azerbaijão, pela categoria até 100 kg, ele levou a medalha de ouro, a quarta consecutiva na competição.

Em sua campanha rumo ao quarto ouro Tenório derrotou todos os seus quatros adversários por ippon, o golpe perfeito no judô. O judoca é o único atleta brasileiro tetracampeão paraolímpico e trouxe pela primeira vez nesta edição dos Jogos, a medalha dourada para o país. Paulista de 37 anos, estreou em Atlanta-1996, quando foi ouro na categoria até 86 kg, o peso médio na época. Quatro anos mais tarde voltou a vencer em Sydney, agora na categoria até 90 kg. Em Atenas-2004, o judoca subiu de categoria (até 100 kg) e, novamente, esteve no lugar mais alto do pódio.

A paixão pelo judô começou cedo. Aos sete anos já se destacava em campeonatos. Aos 13, sofreu um acidente numa brincadeira com estilingue e perdeu a visão do olho direito. Seis anos mais tarde, teve deslocamento da retina no olho esquerdo, devido a uma inflamação alérgica, o que lhe deixou cego.

O Brasil encerrou sua participação nos Jogos Paraolimpicos de Pequim com o melhor rendimento da história. Ao todo, os atletas trouxeram para o País 47 medalhas, resultado que deixou a delegação na nona colocação. Foi a primeira vez que o País terminou no top 10.


Mas ainda não podemos dizer que nos transformamos numa potência paraolímpica. Não é apenas conquistar um grande número de medalhas que transformará um país numa potência. Para atingir este patamar, uma nação precisa oferecer, em primeiro lugar, respeito às pessoas com deficiência física.

O Brasil tem evoluído, e muito, neste critério. Porém ainda está longe de tratar os deficientes como eles devidamente merecem. Um exemplo bem prático é a dificuldade que um cadeirante encontra para entrar num ônibus.

Todos os brasileiros que estiveram em Pequim são vencedores. Não apenas os que subiram ao pódio. Cada um deles representa o verdadeiro significado da Paraolimpíada, que não é fazer um deficiente campeão, mas sim mostrar o seu valor como pessoa.

A posição na tabela de classificação foi o de menos em Pequim. O importante foi mostrar que todas as pessoas merecem ser tratadas com respeito, independente de suas limitações, raças, sexo, crenças e origem. Esta é a mensagem da Paraolimpíada.

Diante de tantas mudanças que hoje vimos eclodir na evolução da sociedade, surge um novo movimento, o da inclusão, conseqüência de uma visão social, de um mundo democrático, onde pretendemos respeitar direitos e deveres.

A limitação da pessoa não diminui seus direitos: são cidadãos e fazem parte da sociedade como qualquer outro. É o momento de a sociedade se preparar para lidar com a diversidade humana.
Todas as pessoas devem ser respeitadas, não importa o sexo, a idade, as origens étnicas, a opção sexual ou as deficiências.Uma sociedade aberta a todos, que estimula a participação de cada um e aprecia as diferentes experiências humanas, e reconhece o potencial de todo cidadão, é denominada sociedade inclusiva.

A sociedade inclusiva tem como objetivo principal oferecer oportunidades iguais para que cada pessoa seja autônoma e auto-determinada. Dessa forma, a sociedade inclusiva é democrática, reconhece todos os seres humanos como livres e iguais e com direito a exercer sua cidadania. Ela é, portanto, fraterna: busca todas as camadas sociais, atinge todas as pessoas, sem exceção, respeitando-as em sua dignidade.

Mas, para que uma sociedade se torne inclusiva, é preciso cooperar no esforço coletivo de sujeitos que dialogam em busca do respeito, da liberdade e da igualdade. Como sabemos, nossa sociedade ainda não é inclusiva. Há grupos de pessoas discriminadas, inclusive nas denominações que recebem: inválido, excepcional, deficiente, mongol, down, manco, ceguinho, aleijado, demente...

Essas palavras revelam preconceito, e, através delas, estamos dizendo que essas pessoas precisam mudar para que possam estar convivendo na sociedade. O problema é do surdo, que não entende o que está sendo dito na TV, e não da emissora que não colocou a legenda; é do cego, por não saber das novas leis, e não do poder público que não as divulga oralmente ou em braile; é do deficiente físico, que não pode subir escadas, e não de quem aprovou uma construção sem rampas. Assim, dizemos que é de responsabilidade da pessoa com deficiência a sua integração à sociedade.

O termo inclusão, diferentemente, indica que a sociedade, e não a pessoa, deve mudar. Para isso, até as palavras e expressões para denominar as diferenças devem ressaltar os aspectos positivos e, assim, promover mudança de atitudes em relação a essas diferenças. É nosso dever fornecer mecanismos para que todos possam ser incluídos.


Que a Igualdade se sobreponha às discriminações... A Liberdade possa alçar vôo livre dos rótulos... onde alcance os pincaros da Fraternidade entre nós!

Nenhum comentário: